Um dos lugares mais lindos e deliciosos que eu já visitei foi a Île de Ré, uma ilha costeira francesa situada no Oceano Atlântico frente a La Rochelle. Fui para lá com a turma do Erasmus e mais alguns franceses que organizaram o passeio e trabalhavam na faculdade nesse setor de apoio aos intercambistas, umas 40 pessoas.
Chegamos na ilha num dia ensolarado e, era a primeira vez que eu via o mar desde que havia me mudado para a França. O plano era passar o dia passeando, conhecendo mais as pessoas (que eram de todas as partes: Brasil, Argentina, Itália, Alemanha…), comendo sanduíches e queijinhos no nosso piquenique improvisado no gramado, fotografando e… andando de vélo, como eles dizem. Eu estava muito, muito animada.
A ilha é uma graça! Cheia de casas bonitinhas, de vendas e lojinhas com comidinhas, souvenirs e sorvetes convidativos, ares de alegria e a impressão que a qualquer momento vai começar um desfile de moda com inspiração náutica e ricaços assistindo ao sol, sentados nesses café-bistrô lindinhos e carésimos. Além disso, tem aquele monte de gente linda andando de bicicleta, fazendo parecer que, na verdade, aquela é uma cidade cenográfica onde se passa uma versão moderna de “A Noviça Rebelde”.
A parte das bicicletas é realmente algo que chama a atenção. É uma das principais “atrações” da ilha e, tem dezenas e dezenas de estabelecimentos onde você pode alugar bicicletas para passear por lá. Como bons turistas, foi o que fizemos. E começamos a pedalar. Existem diversos caminhos pra se fazer lá, diversas ciclovias – escolhemos uma que começava fazendo a volta na orla, pedalando e olhando para o mar.
Eu estava com um vestido branco, biquíni por baixo, pedalando feliz. Aliás, eu lembro de sentir o vento e o sol no meu rosto e, de ter a certeza que aquele era um dos dias mais felizes da minha vida. E foi mesmo – apesar do detalhe “45km”.
Para completar a felicidade do dia… eu estava super encantada por um dos franceses que nos acompanhava. Ele tinha cabelo castanho e olhos castanhos bem claros, a maior cara de bom moço, super simpático. Ele tinha acabado de voltar de Barcelona e, isso tinha deixado ele com a pele morena e um ar menos rabugento na feição – menos francês, quase latino. Vou lhes dizer o que me custou ficar prestando atenção no tal do moço… A certa altura do passeio, um dos “responsáveis” (um dos estudantes franceses) disse alguma coisa que eu não prestei atenção e não entendi – porque eu estava prestando atenção no mocinho lá, né? Só percebi que nesse momento o grupo se dividiu: parte do grupo ficou na praia e, parte, o moreno inclusive, continuou pedalando pela ciclovia. E eu, encantada por ele, fui junto com este segundo grupo, pedalando…
Até aí, tudo bem. Só que depois de algumas horas – sim, horas – pedalando, eu estava prestes a morrer. Fizemos uma rápida pausa para beber água num trecho da ciclovia e perguntei para um dos meus amigos franceses o que é que o outro tinha dito mais cedo. A explicação: tínhamos chegado a um ponto do passeio onde já haviam sido pedalados 23km e, quem quisesse descansar podia esperar na praia. O resto iria terminar a rota – mais 22km para ver uma outra praia mais linda que a primeira – para, então, nos encontrarmos no centrinho com os outros e ir embora.
Quando ele disse isso, “mais 22km”, juro que quase desmaiei, quase gritei, quase pulei na garupa do moreno dizendo “a culpa é sua, me leva”. Gente… como que eu, uma sedentária de carteirinha, ia fazer 45km de bicicleta num dia? Impossível, eu diria. (Mas Jean Cocteau diria: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez”). A pior parte? Eu não tinha escolha. Não estávamos numa parte “civilizada” da ilha com carros ou outras vias que pudessem me servir de atalho. Sem falar que, no nível de francês que eu estava… não ia dar para largar o grupo e sair sozinha pela ilha tentando a sorte de encontrar a praia certa. Que que eu fiz? Comecei a rezar. Rezar e pedalar… rezar e pedalar… rezar e pedalar… até chegarmos a tal da “praia mais bonita”.
A praia era linda! (Com exceção de algumas velhas super bem resolvidas com seus corpos, tomando sol sem biquíni e abrindo as pernas para bronzear o útero!). Entrei no mar e até chorei ao encontrá-lo, de tanta saudade que eu estava. A água estava super gelada e, não pudemos ficar muito já que ainda havia vários quilômetros a serem percorridos. Mas, eu estava renovada! E, talvez por isso, meus amigos, o milagre aconteceu: pedalei com eles o total de 45km e ainda tomei um sorvetinho antes de desmaiar no ônibus na viagem de volta, sem forças nem mesmo para paquerar o moreno. Sem forças mas, feliz. Muito feliz.
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Fonte da foto: http://pinterest.com/pin/46513808621617116/
E, de quebra, mais um vídeo: <https://vimeo.com/24845382>. O vídeo mostra uma menina pedalando em Paris; não tem nenhuma ligação direta com a história. Mas, eu lembrei dele, eu acho ele lindo, tem vélo e, Paris nunca é demais! Fica a dica.
Des bisous ;*
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