Be kind

Num dos últimos cultos que fui na minha igreja, estudamos o primeiro capítulo de Tiago. O trecho que mais colou na minha memória e me acompanhou pelas últimas semanas foi o seguinte:

“Portanto, meus amados irmãos, todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não opera a justiça de Deus”. (Tiago 1:19-20).

Isso aí ficou ecoando na minha mente… Principalmente a parte do “tardio para se irar”.

Traduzindo para o português cotidiano “ouça mais, fale menos, irrite-se menos”. Parece-me fácil de encontrar consenso que essas três diretivas são fáceis de entender e difíceis de praticar.

Eu sou cristã e essa é uma parte da minha vida que eu adoro. Vou à uma igreja onde me sinto bem, onde aprendo e tenho a liberdade e espaço para questionar e discordar. Apesar disso, tenho muita dificuldade com o “universo cristão protestante” (a.k.a evangélicos). Discordo de muitas coisas, e, principalmente, de muitas posturas. Entre elas, a mania que parece presente em quase todas as igrejas: querer ser fiscal de Deus na Terra. Sabe? Ver e apontar (!) o defeito e o erro do outro.

É super fácil você ver alguém irritado hoje em dia, vai. Afinal de contas, esse mundo é um bordel. É trânsito ferrado, vizinho ouvindo sertanejo, lei absurda sendo votada no BrasilIrritar-se é provavelmente uma reação mais do que natural. Aí, vem lá o crente te dizer que não pode. “Não pode se irritar, menina. Tá lá, escrito em Tiago”. Ok, tá certo, é verdade. Mas, e se a gente tentar olhar com amor para a pessoa irritada, o que que é a gente vai ver?

Eu lembro quando o R., um amigo meu, ficou dias com dor no pé por causa de uma unha encravada. Lembro dele dizendo (de um jeito que não deixava de ser engraçado) que ele agora compreendia o Doctor Gregory House, haha, que alguém que experiencia dor todos os dias não tem como não ser ranzinza e irritar-se facilmente. E, não é verdade? A dor tem duas ferramentas de tortura: intensidade e duração. Quem está passando por dor intensa ou duradoura (senão as duas!) provavelmente vai irritar-se com todo o resto que está “errado” no mundo (dela) e não devia. Quem está sentindo dor é quem mais precisa de graça. 

Assim, o que eu quero dizer e, mais, o que eu quero é ser é o tipo de cristã – o tipo de pessoa – que, quando vê alguém irritado não vai logo citando Tiago 1 mas, tem uma atitude de amor e compaixão. Mesmo que essa atitude seja concordar sorrindo com o amigo quando ele, irritado, gritar pro carro do lado: “Acorda, amigo! Faz dez minutos que tá verde essa m* de sinal!” porque talvez o problema não seja o trânsito e, sim, um coração quebrado.

 bekind

Foto.

 


p.s.: Este texto absolutamente não tem a intenção de ser argumento ou base para cumprir-se menos (ou deixar de tentar cumprir) o mandamento de Tiago 1. Como já disse, sou cristã e creio na Bíblia. Acredito que o mandamento de Tiago 1 é real e foi deixado para ser algo bom para a vida das pessoas. A questão aqui é simplesmente o foco: cuidar do seu erro ou do erro do outro (;


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