Eu sempre amei o mar, desde de que me lembro amando alguma coisa. Mas, até pouco tempo atrás, estar perto dele ou vê-lo com frequência era suficiente. Talvez não o ideal: gostaria de poder tê-lo todos os dias ao meu alcance. Mas, ainda assim, era uma situação suportável.
Recentemente, porém, tudo mudou. Tudo mudou e eu já não respiro bem aqui. Meu peito pesa e dói; minha visão fica turva; meus pensamentos se amontoam, se empurram, se devoram, disputam espaço e atenção; meus braços buscam o pescoço numa frustrada tentativa de acalmar a respiração; minhas mãos buscam paredes e móveis para enfrentar a escuridão que, de tempos em tempos, se coloca entre meus olhos e o mundo. Sinto-me como que afogando-me nesse ar pesado, nesse monte de barulho, nessa confusão de vozes e imagens.
Estou certa de que já não combino com esse lugar, com essa paisagem, com essas pessoas, com esse sistema, com essas dores, com esse corpo, com essas memórias. Então, meu pedido é: deixem-me ir morar aí no mar, no azul, no imenso… na liberdade. Quero nadar para sempre, cada dia para uma parte. Quero subir à superfície para ver o nascer e o pôr-do-sol… às vezes, para ver o céu estrelado e, voltar! Quero conhecer todas as praias que existem, viajar para sempre. Quero voltar a respirar sem dor; quero me esconder entre algas e corais; quero água salgada ao meu redor e, não nos meus olhos, na minha boca… Estou pronta. É dar o sinal, é acenar, é chamar num sussurro e eu pulo no mar.
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