Cinco erros e um funeral

Essa história é uma sequência absurda de erros. E, uma  história com tantos erros está fadada ao fracasso desde o começo. Qualquer um poderia prever isso. Qualquer um, menos ela. O romance cega.

Ok. Não só o romance… (Essa mania de sempre florear a coisa… Botar a culpa no romance, no amor, é sempre mais fácil) Mas, ela estava cega, fato. Talvez fosse por causa daquela cicatriz na sobrancelha que deixava ele com cara de quem tinha ido pra guerra… talvez fosse a tatuagem que ela achava que lhe dava uma mistura de bad boy e Con-Air… (Oh, boy! Pode dizer, pode dizer…) Talvez fosse simplesmente a certeza de que ele nunca iria paquerá-la. Ou talvez fosse só mesmo sua veia romântica.

O que eu sei é que quando ele aproximou-se para beijá-la, ela ficou na dúvida. Dúvida se aquilo estava mesmo acontecendo (sim, o álcool atrapalha um pouco essa percepção), dúvida se devia, mas, nenhuma dúvida se queria. E, está aí nosso primeiro erro, senhoras e senhores: o primeiro de muitos beijos da noite.

E, bom, ter sido um ou um milhão não é o problema em si. O segundo e mais complicado erro foi ter gostado do beijo, foi ter sentido arrepios e não ter vontade de largar. A noite foi longa e deliciosa – beijos ao som de música feliz, luzes piscando, amigos dançando ao redor – e acabou numa mesa farta de café da manhã apesar de ela estar sem vontade nenhuma de comer. “Um café preto, por favor” e só. Ela estava feliz e nervosa demais para comer.

could be me

Três dias se passaram e, encontraram-se então sob circunstâncias tristes, num velório. Ela não sabia como agir; não queria ser incisiva e inconveniente mas, definitivamente queria poder ajudar, consolar e confortar com doçura aquele menino que quase não se parecia com a versão destemida e inquebrável que ela tinha dele.

Duas semanas se passaram em silêncio.

Num daqueles momentos de insensatez e impulsividade que eram bem característicos dela, enviou-lhe uma mensagem: “você quebrou meu coração” (Claramente este é o terceiro erro da história). Ela não estava acostumada a esperar tanto por um retorno, uma demonstração de carinho, um convite para encontrar-se. E, ela entendeu esse silêncio como desinteresse. Arrependeu-se da mensagem assim que a enviou. Afinal de contas, duas semanas talvez não fosse o normal para ela esperar mas, duas semanas de luto definitivamente não são o suficiente para fechar a ferida da perda e preocupar-se com trivialidades como cinema e flerte.

Para sua surpresa, a resposta dele não podia ser melhor. Perguntou o que ele havia feito de errado – sem nem ao menos tentar se defender – e, disse que não tinha nenhuma intenção de magoá-la; ao contrário, queria vê-la tão logo voltasse de viagem. Foi o suficiente para que ela voltasse a suspirar, lembrar sorrindo dos beijos daquela festa e esperar riscando o calendário pelo dia que ele voltaria – que iria coincidir com outra festa. E, este suspirar e esperar, meus amigos, foi o derradeiro erro dela.

Em meio àquela luz laranjada e paredes escuras do bar de rock, amigos e cervejas, encontraram-se enfim. Ele sorria de lado, como se guardasse um segredo. Ela ficou nervosa só de encontrar seus olhos… correu para o banheiro, arrumou o cabelo, retocou a maquiagem e voltou de sorriso aberto, fingindo segurança. Varreu o bar com o olhar, “cadê ele?”.

– Ana, cadê ele?

– Ah…! (Suspirando) Ele foi embora… Saiu com aquela menina morena. Sabe?

E este foi o erro dele. (Ou vocês acharam que só ela ia desfilar exibindo erros por aqui? Ingenuidade…) O mais sutil mas, ainda assim, o maior erro da história toda, sem dúvida.

O primeiro acerto da noite? Cachorro-quente na rua, passando frio e rindo da vida tragicômica ao lado das melhores amigas. Afinal de contas, faltou “quatro casamentos” antes, né? Burrice deixar passar esse detalhe assim, despercebido!

A internet é uma benção mas, é uma bagunça, né? Não sei de quem é a foto. E a fonte fica sendo, de novo, o Pinterest-amor: http://pinterest.com/pin/46513808623712744/


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