Eu não sei mais o que estou fazendo.
Quando eu penso que te deixei no passado, você vem numa música, numa foto, num golpe de vento e me domina de novo.
Meu corpo é aberto no meio. Uma fenda que rasga a pele, separa as costelas, expõe meu pulsante coração. E um zumbido agudo e uma dormência intensa zombam dos meus sentidos.
Eu nem entendo como posso me sentir tão vazia e tão cheia de você; tão cheia de memórias, de horrendas esperanças irracionais, de lembranças místicas de coisas que não aconteceram, de lágrimas que ficam presas dentro de mim porque tenho que trabalhar, dirigir, conversar com as pessoas normais que me cercam e me convidam para cafés e happy hour.
De noite, sob a água morna, choro. E como a dor não passa, arranho as próprias costas. Arranco pedaços da pele, para abrir espaço às asas, para fugir. E como a dor não passa, apelo pro whisky barato. O gosto me distrai; saboreio o calor que irradia pela garganta até o peito. Faz tanto tempo que eu não fumo…
O sol se pôs dentro de mim. Só conheço a noite, a tontura, a repetição dos dias sem fim.
Imagem linda do trabalho de Ana Tereza Barboza.
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