Que ela sofreu todo mundo sabe. Que ela transformou o sofrimento em cor e arte, todo mundo sabe. Ela representa superação, força feminista, é ícone pop… Frida Kahlo dispensa apresentações e quase tudo que há para se dizer sobre ela – sua história e sua obra – já foi dito e repetido.
O que fica escondido é o que a obra dela faz hoje com as pessoas de forma individual, íntima, pessoal. Esses dias li um relato de uma moça que, inspirada por Frida resolveu compartilhar sua dor (um câncer na faringe) através de poemas num blog. Eu mesma já mencionei Frida tantas vezes ao tentar explicar para amigos uma das minhas maiores angústias e desejos: fazer da dor matéria prima, destilar o sofrimento através de algo que perdure mais do que ele próprio – algo bom.
É fácil admirar Frida porque é fácil identificar-se com os sofrimentos dela. Como ela, quem nunca sofreu de amor? Quem nunca perdeu alguém querido? Ou, um sonho? Ou parte de si? Quem nunca se sentiu impossibilitado de realizar por forças externas, razões maiores? Difícil é ter a mesma postura… Quando precisou amputar uma das pernas, Frida disse “Pies para qué los quiero si tengo alas pa’volar”. Natural para alguém que dizia pintar não o que sentia, mas, o que vivia. Frida sobrepujou a realidade, apropriou-se de asas, uma beleza inesperada, um tipo raro poder… E, quase como um mártir idealista, deixou como legado o exemplo. Que bom se, como ela, todos nós pudéssemos transformar esses sofrimentos – e assim, nossas histórias – em beleza e redenção.
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Frida Kahlo, “Self Portrait”, 1940 (oil on board).
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