O tempo me encanta… é algo incontrolável e instigante, como o mar. E, o tempo dá qualidades às coisas; o tempo têm o poder de fazer algo tornar-se memorável ou esquecido.
Em geral, tudo aquilo que é considerado tradicional e clássico passou pela aprovação do tempo. Por isso, sinto-me atraída a conhecer (quase) tudo que é tradicional e clássico e avaliar o julgamento do tempo com a minha própria opinião. (Insolente, não?). Assim, autores como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway, Truman Capote e Edgar A. Poe entraram para a listinha de “quero ler”. (Desses, Fitzgerald e Hemingway já foram, yay).
Finalmente, li “The Great Gatsby” de Fitzgerald. E, recentemente, assisti o filme de Baz Luhrmann baseado no livro. O livro absolutamente merece os elogios que o colocam entre as mais importantes obras de Fitzgerald. O filme… nhé, not so much.
Não vou ficar aqui dando resumo da história porque isso tu acha em qualquer lugar. Sem falar que, na pior das hipóteses de preguiça, tem lá o filme que te conta a história em menos de duas horas. Conta mal contado, mas conta. Fica ao menos claro que, acima de tudo, The Great Gatsby fala de um amor idealizado (e nem por isso menos real). Fala também da próspera sociedade daquela época, amante do jazz, dos excessos, do brilho das festas e do dinheiro, cheia de gente superficial e mesquinha que preferia agir como se pretos e pobres fossem uma espécie à parte, que merecia menos de tudo. Mas isso tudo é pano de fundo para a história do verão em que Nick Carraway, narrador da história, foi hipnotizado por Gatsby e seu amor por Daisy.
Fitzgerald conta a história de uma forma sensível, descrevendo muito mais que fatos. Ele descreve cores e sensações, sentimentos reais e imaginados. Há esperança e desolação em cada página, num equilíbrio assustador. Para mim, um dos melhores exemplos disso está no trecho a seguir:
Trinta anos – a promessa de uma década de solidão, uma lista com menos colegas solteiros, uma pasta de trabalho com menos entusiasmo, menos cabelos. Mas havia Jordan ao meu lado que, ao contrário de Daisy, era esperta o suficiente para não carregar sonhos esquecidos de uma época para outra. Quando passávamos pela ponte escura seu rosto pálido tombou preguiçosamente sobre o ombro do meu casaco e a batida formidável dos trinta anos se apagou com o toque tranquilizador de sua mão.
E assim seguimos em direção da morte através do refrescante crepúsculo.
Quem é que vai em direção à morte e ainda assim consegue sentir e perceber o frescor do crepúsculo?! Fitzgerald.
De qualquer forma, o mais importante sobre o livro é saber que além do equilíbrio entre esperança e desolação existe um equilíbrio ainda maior. O absurdo equilíbrio entre posturas antagônicas: ter fé no amor e obstinação no sonho e, ceder à dureza da realidade bruta, fria e injusta, apesar de fazê-lo contra à própria vontade.
O filme não consegue mostrar essa dualidade em equilíbrio. Aliás, o filme não é muito fiél nas linguagens que escolheu usar; essa oscilação acaba sendo seu próprio carrasco. A oscilação começa na atuação: Leonardo di Caprio, Carey Mulligan, Tobey Maguire por vezes convencem, muitas outras, não. (Particularmente, achei a escolha de Tobey Maguire péssima para o papel. Nick Carraway pode não ser o mais destemido dos homens mas, duvido muitíssimo que ele ficasse com aquela expressão assustada no rosto).
A fotografia é fascinante – quando o foco são as pessoas. Já quando mostra os lugares – como as mansões e as paisagens – fica muito forçado, parecendo um filme da Disney. A trilha sonora parece-me ter sido mal aproveitada: tanta música linda e, no filme, quase só se escuta a voz da Lana del Rey. E, de praxe, muito da história se perdeu ou alterou…
Mas o filme tem, sim, seu pontos altos. O figurino está impecável! E, além dele, algumas cenas ficaram esplêndidas, traduziram o livro em essência colocando a emoção da imagem forte. Entre as favoritas: a cena em que Nick entra pela primeira vez na sala da Daisy e as cortinas são esvoaçantes; a cena da discussão de Gatsby e Tom no hotel; a cena do atropelamento; a cena-memória de Daisy antes de casar-se, arrebentando o colar de pérolas. Nessas todas prendi a respiração; foram lindas, dramáticas, incisivas.
Enfim, mesmo não sendo um dos filmes que mais gostei, a história é linda e eu saí chorando do cinema. Agora falta assistir a versão Jack Clayton, de 1974, e comparar. Uma coisa é certa: grande mesmo é o Fitzgerald. Gatsby fez com que eu me apaixonasse por ele e, logo vai ter pitaco sobre outros livros dele aqui (:
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