It was a flood that wrecked this

Enchente

Sobreviver às cidades
às inundações, às tempestades
sobreviver aos achaques
aos românticos, aos bárbaros
às lembranças que voltam
em forma de sombras
ostentando sorrisos

Sobreviver às amizades
e outras velhas armadilhas
sobreviver com o corpo
ao avanço do tempo nos teus braços
de coração, enfim, a salvo
das mãos dos que te matam

Sobreviver com alguém ao teu lado
(e isso basta)

[Nei Duclós]

drifting by Brian Scott

Imagem: Drifting by Brian Scott.

Eu sempre escrevi assim, de brincadeira. Mas, desde que botei o blog no ar, tenho escrito quase um texto por dia. Fire on my fingertips.  E mesmo sendo uma experiência despretensiosa, é gostoso ver progresso, receber críticas e elogios, ouvir perguntas curiosas sobre o que é verdade/mentira nos textos ou, simplesmente ver meus sentimentos, pensamentos e ideias transformados em palavras e imagens – em algo vivo e, de certa forma, concreto.

Agora, eu vou me realizar mesmo se algum dia eu tiver a habilidade de escrever poemas… Poemas como este, como o “Saudades” da Helena Kolody, como qualquer um da “minha” Trindade (M. Bandeira, Hélio Pellegrino e Vinícius de Moraes). 

A poesia me encanta. Acho absurdo que um ser humano consiga produzir algo tão belo e tão sensível que é capaz de traduzir o sentimento de tantas pessoas – mesmo sem ter com elas nenhum tipo de relação. Revela a semelhança que temos. A poesia é fruto de esforço árduo: mais do que tirar o máximo do intelecto, tira-se o máximo da alma, faz-se dela matéria prima que é queimada, moldada, pintada, quebrada e colada, sujeita à vontade do artista, escravo da arte e do destino. Fazer poesia é encontrar equilíbrio; é incessantemente dominar e ser dominado por aquilo que é maior que nós mesmos: a enchente, o amor, a dor, a sorte, a história… 


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