A exposição “Audácia Concreta – as obras de Luiz Sacilotto” teve abertura no dia 30 de abril (2015) no MON – Museu Oscar Niemeyer, e traz uma retrospectiva da obra do artista Luiz Sacilotto (1924-2003), um dos primeiros e mais importantes concretistas brasileiros. A mostra com curadoria de Claudinei Roberto da Silva conta com 134 obras, inclusive algumas nunca antes apresentadas a público.
A exposição está dividida em sessões, de forma que quase intuitivamente – e ainda mais com a ajuda dos textos – as pessoas conseguem conhecer e compreender muito de quem foi e o que fez este artista.
As primeiras sessões, correspondentes ao início dos experimentos do pintor, trazem marcas de uma educação artística tradicional. Entretanto, num intervalo de tempo bastante pequeno vê-se o início de sua pintura abstrata e da pesquisa com materiais, formas, cores.
A partir da segunda sala, a partir dos estudos é que vemos Luiz Sacilotto, o “pintor operário” (como foi chamado outrora), o concretista. A partir daqui as obras são de uma meticulosidade impressionante! Não se vê nas pinturas a marca da pincelada – quase como se a pintura tivesse sido feita por meios mecânicos. Mas não! Sacilotto foi quem fez (do início ao fim da vida) cada uma de suas pinturas. Valter Sacilotto, um dos filhos do artista com quem tive a chance de conversar, foi quem contou que quando Sacilotto (o pai) estava já mais idoso, os filhos sugeriram que contratasse um assistente. Ele negou e explicou que no fazer uma pintura, nascia a ideia para a próxima; além do que “ele gostava de pintar!”, gostava do processo.
Sacilotto fez inclusive muito mais do que a própria pintura: construía e montava telas, comprava os metais em indústrias, muitas vezes coletava pigmentos e preparava sua tinta… Esses detalhes (me) parecem propor uma dualidade interessante, um quê de humano e orgânico à produção concretista (cheia dos quês de pureza da cor, constância no ritmo, estudos matemáticos de formas e ângulos…). De uma forma simbólica, esta dualidade se apresenta toda vez, em praticamente toda obra concretista de Sacilotto, em seu título e na assinatura do artista. Os títulos de suas obras passaram a ser metodicamente relativos ao ano de produção da obra e número de obra produzida (naquele ano); a assinatura dele é perfeitamente manuscrita, delicada e redonda, lembrando a caligrafia de uma professora primária.
Nas salas que se seguem, temos além da produção de pintura concretista, as experiências em outras técnicas (entre elas, serigrafia e colagem) e, obras que podem ser inseridas nas propostas de Op Art e Arte Cinética. Não pretendo analisar as obras, técnicas, resultados do artista do ponto de vista crítico ou acadêmico, visto que é disponível e acessível textos de autores com muito mais propriedade (como Enock Sacramento, Marcos Moraes e do próprio curador da mostra, Claudinei Roberto). Mas creio que cabem alguns comentários pessoais.
Conversando com o curador, soube que um dos motivos pelos quais Luiz Sacilotto experimentou a colagem com vinil acrílico foi o tremor de suas mãos, causado por um AVC e intensificado pela idade. Isso em contraste com as obras reforça a genialidade e a obstinação do pintor que encontrou um caminho para executar o que pretendia com maestria. E quanto as ilusões que Sacilotto cria, as vi lúdicas, instigantes, divertidas (mesmo quando não há como se conformar com a impossibilidade (ir)real apresentada). Simplesmente pela delícia da estética já é motivo para ver, deter-se e olhar, permitir-se o passeio por entre as cores e formas.
Aproveito para finalizar com as palavras do poeta Haroldo de Campos:
para sacilotto / operário da luz
o quadrado áureo
de sacilotto –
concreção seis mil
trezentos e cinquenta e um
mil novecentos e sessenta
e três –
latão tridimensional polido
sabiamente
pelo escultor-operário
de esquadrias metálicas –
deixa que se abram
à superfície
pequenas ventanas triangulares
em relevo
que vazam em fendas
escuras:
o deslumbre da luz aurificada
rebate-se nessas seteiras como em
buracos negros:
ao trânsito do espectador
tudo vibra
tudo entrevibra numa
(pré-op)
cinese dourada
–
A exposição tá linda. Espero que possam vir e ver. E espero que gostem do relato das minhas impressões e experiências que vou deixando aqui.
À plus,
Lis.
–
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