Estávamos viajando há mais de vinte dias. Eu não havia dormido quase nada na noite anterior. Acordamos atrasadas e meio retardadas de sono. Entramos no transfer para o aeroporto e começamos a rezar para não perder o vôo. Quando chegamos lá descobrimos que o vôo estava atrasado – não sem dizer se ficamos felizes ou mais cansadas com a notícias. Sabe quando você está feliz mas está tão cansado que quase não consegue esboçar sorriso? E fica até meio de mau humor? Estávamos assim.
Depois de uma hora sentadas sobre nossas próprias malas na fila do check-in, entramos no avião, desmoronamos nas poltronas. Fiquei assistindo o zum-zum-zum confuso daquele primeiro momento onde os passageiros procuram seus lugares, guardam bagagem e todo mundo parece que está fazendo tudo automaticamente. Tudo parecia uma alucinação. Alguns minutos depois, o avião decolava e eu me preparava para algumas poucas horas de sono.
Tão logo a tranquilidade das nuvens nos abraçou, escuto uma voz aguda, infantil, alta… extremamente alta, a gritar:
– Roma, Roma, Roma, Roma, Roma, Roma, Roma!
Meus olhos esbugalharam-se em desespero. “Camille!” e ela esboçou uma risada e só conteve-se porque viu que eu estava, de fato, tragicamente, sofrendo! Era um garoto de uns cinco anos, moreno, todo arrumadinho, notavelmente feliz e diabólico, pronto para aprontar todas na Itália. E, ele não parava! Continuava incansavelmente sua comemoração antecipada: “Roma, Ro-ma, Rooo-ma, Roooo-ma!”. Eu me perguntava se mãe daquele moleque era surda; me recontorcia na cadeira; queria estrangular ele; olhava para a aeromoça esperando que ela liberasse aquelas máscaras, abrisse uma janela e jogasse aquele menino céu a dentro. Ele provavelmente não ligaria; cantaria e gritaria Roma all the way till the ground.
De repente, meus amigos, aquele pivete grita:
– Ro-ma, Rooo-ma, Ro-ma, Rooo-ma… Dinheeeeeeiro!
A reação foi imediata: olhei para a Camille, as duas com olhos de surpresa ante a situação irreal, cômica e sem explicações , e… caímos na gargalhada. Chorávamos de rir! Eu não me aguentava… Tão logo conseguia me recompor, era olhar para ela, olhar para ele e, cair na risada de novo. E, até hoje, quando lembro dessa história, ainda consigo escutar ele algumas poltronas à frente, “Roma, Ro-ma, Roma, Roooma, DINHEIRO!”. Aposto que seria uma viagem muito divertida para o garotinho.
—
Deixe um comentário