Tag: ficção

  • #33

    #33

    Saí e dei de cara com ele ali, parado, feito árvore, rindo daquele jeito maldito porque consegue prever e acertar minha reação. (Quando resolvi escrever, o corretor sugeriu a mudança de “rindo” para “lindo”. Ri nervoso porque a mudança poderia ser acertiva) De tantas vezes que imaginei ele ali, me parecia razoável ter na ponta…

  • Meet me in Montauk…

    Entrou na Ghignone para fugir da chuva. Pediu um chá de menta e abriu um livro. Quando ergueu a cabeça para agradecer o garçom, viu João entre os livros de arte e fotografia. Oscilou por alguns segundos; levantou e foi até lá. Depois de meia dúzia de palavras de saudação e surpresa, sentaram-se à mesa…

  • Na fila da farmácia

    Cortei o pé. “Tem band-aid em casa?”. Não tinha. Desci a Teobaldo, passei pela feirinha mancando, a barra da calça manchada de sangue, entrei na farmácia do lado direito. Um rolinho de gaze e esparadrapo. Na fila observo três amigas. Uma não pára de rir. A outra, encabulada. A terceira quer saber. – Fui no…

  • A ghost is born

    Acordou, sentou na cama e, num reflexo natural, esfregou os olhos. Uma sensação de pó entre os olhos e os dedos a surpreendeu e logo pensou “merda, conjuntivite”. Entretanto, surpresa maior foi ver sobre seu colo, sobre as cobertas, um monte de pó – parecido com serragem. Passou de leve dois dedos sobre o rosto,…

  • Gone, gone, gone

    Marília e Cecília entraram no hostel e logo sentiram-se, de fato, viajando: cada um lá diferente, falando uma língua, interligados e ao mesmo tempo, soltos em suas próprias jornadas. Instalaram-se rapidamente. Trocaram de roupa e já pegaram a primeira van disponível para ir às Cataratas, do lado brasileiro. Sol, sol, sol queimando a pele. Cecília…

  • My soulmate has been found – so they say

    Estava lá em São Paulo esses dias, aproveitando para matar a saudade dos museus e de vários bons amigos. Entre eles, um psicólogo que eu amo de paixão. Encontramo-nos no Coffee Lab – um dos meus cantinhos favoritos da cidade. Entre um gole e outro, depois de várias atualizações gerais sobre como anda a vida,…

  • Wicked Games: viens que je te griffe

    Acordou de manhã com a luminosidade de um dia de sol enchendo o quarto branco; sorriu. Virou para o outro lado, aninhou-se novamente sob as cobertas clarinhas como se pudesse ficar ali naquele sonho de nuvem até sentir que o corpo todo havia despertado para, de fato, falar, andar e desprender-se (um pouco, apenas) das…

  • Carta aberta às sereias

    Eu sempre amei o mar, desde de que me lembro amando alguma coisa. Mas, até pouco tempo atrás, estar perto dele ou vê-lo com frequência era suficiente. Talvez não o ideal: gostaria de poder tê-lo todos os dias ao meu alcance. Mas, ainda assim, era uma situação suportável. Recentemente, porém, tudo mudou. Tudo mudou e…