The big fight

Todas as coisas fundem-se sob a luz da manhã: o passado, o presente, as memórias, os delírios. Dentro do castanho profundo é revelada a dor; tanta coragem e medo misturados. Uma expressão perplexa no seu rosto, cheia de incredulidade e confrontação. Suplica que pare, suplica que volte; dor e lembranças pulsam em um coração brilhante. Está longe, e no meio do mar só existe o azul – distante de toda praia, de toda pedra, de toda esperança. O cheiro de tinta fresca das paredes brancas, as plantas verdes, os móveis de madeira, a colcha de tricô, a chaleira vermelha, tudo perdendo sua materialidade. É Janeiro, mês dos mortos, dos náufragos e dos cansados. Pisca os olhos, pálpebras como asas de beija-flor, batendo como se fosse morrer se parasse… estreita os olhos cheios de desespero. Se abaixa devagar, encosta no chão o corpo todo, sente o piso duro e gelado. Olha para o espelho apoiado na parede, mas não reconhece o reflexo.  (Os movimentos são lentos e travados, mal sabe-se que por baixo da pele há uma guerra, um tumulto, trovões e tornados.) Sente os músculos relaxando, a estranha sensação de desistência física, uma tonelada de ar e pó sobre seu corpo, os remédios finalmente correm livremente em seu sangue. Sente frio e medo. Se despede baixinho, sussurrando com ninguém, enquanto uma lágrima quente escorre devagar.

Photo by Samantha Cohn.


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