Naquele dia ela estava de batom vermelho. E gesticulando mais do que o normal, de tão nervosa. Ela disfarçava relativamente bem, sorrindo daquele jeito. Segurei sua mão para tentar acalmá-la. Levei um susto de tão gelada que estava! Eu não tive coragem de perguntar o motivo.
Entramos no bar, sentamos no bancos altos ao lado do balcão. Pedi duas cervejas; ela sorriu para o garçom e disse que não queria cerveja, queria um Dry Martini. “Merde”. A situação estava pior do que eu esperava e muito desfavorável para o que eu precisava que ela entendesse…
A luz laranja do bar pareceu aquecê-la um pouco. A música não exatamente a acalmou mas, definitivamente teve um efeito visível sobre ela que parecia estar absorta num devaneio particular. O quarteto de piano, celo, bateria e sax ficava no centro do salão. Atrás deles, uma parede verde escura e várias lâmpadas que desciam do teto em alturas diferentes. As mesas redondas de madeira estavam todas ocupadas. Um senhor de uns 60 anos sentado na mesa mais próxima do palco fumava como uma chaminé. A garçonete que atendia o salão parecia ter saído de um catálogo de pin-ups. O baterista me incomodou um pouco, parecia estar olhando para ela o tempo todo… Quando minha cerveja acabou dei-me conta de como estava propositalmente disperso. Decidi que ia parar de olhar para tudo ao nosso redor; sem mais enrolação eu ia falar tudo de uma vez. Pedi outra cerveja.
“Você confia em mim?”, comecei. Ela me olhou surpresa. Perguntei de novo. Acho que, no fundo, ela não sabia a resposta mas, decidiu dizer que sim. “É o seguinte: eu vou sumir, vai parecer que eu morri. Eu vou voltar só que ninguém pode saber. Se você contar isso a alguém, me colocará risco – e aí pode ser que eu não volte. E, além disso, acho que se você contar a alguém, ninguém vai acreditar… Pode ser muito desgastante com toda a história do hospital. Enfim… Eu vou pular da Catedral. Onde tem aquelas escadas, sabe? E depois disso, você tem que esperar o Sino te procurar. Talvez demore, vai depender de como eu ficar. Mas não é para você se preocupar, vai dar tudo certo, eu vou ficar bem e eu te encontro depois. Ok?”. Ela nem respirava. Acenou que sim, bebeu o resto do drink num gole só e pediu outro para o barman.
[To be continued].
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