A Catedral é imensa, sempre foi, mas naquele dia ela parecia muito maior. Um prédio quadrado, de arquitetura de inspiração romana, com pilastras de uns 10 metros de altura. Por dentro, ele parece ainda maior – branco e dourado. Há alguns altares mas nada muito explícito sobre como a liturgia que envolve eles funciona. Naquele dia a Catedral estava cheia e o reverendo afobado. Eu e ela fomos ao terraço – um espaço imenso de onde algumas escadas eram soltas. Na fachada frontal da Catedral é que ficava a ponte – nos outros três lado do edifício havia um grande abismo entre o prédio e a rua e a praça. Lá do terraço era possível ter uma visão bastante generosa da cidade… Talvez desse para vê-la inteira até. E dava para ver o mar, ao leste. Naquele dia o terraço estava cheio de gente. Deitamo-nos no chão e ficamos em silêncio durante um tempo, recebendo a luz do sol com gratidão, deixando que o seu calor entrasse por debaixo da pele. Sem muito alarde ou aviso, me levantei, fui até a escada, desci todos os degraus e, do último, me pendurei abismo abaixo. Foi quando ela apareceu na beirada: não abriu a boca, mas seus olhos imploravam que eu mudasse de ideia. Olhei-a o suficiente para memorizar os traços que eu já conhecia de cor; soltei e durante infinitos segundos caí.
*
Parecia que ele tinha dito as palavras mágicas, “não chore”. As lágrimas começaram a escorrer sem parar, sem esforço. Elas misturavam-se à tinta que havia caído do meu corpo na tela da mesma forma que minha tristeza se misturava à raiva. Parei de tentar segurar o choro… Chorei meu peito pra fora, gritei – mas nenhum som saiu – chorei mais. Ela segurou minha mão e eu não sabia dizer se queria me consolar ou me preparar para algo pior. Foi quando senti a lâmina – inflexível, lisa e gelada – atravessar minha pele.
[To be continued].
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