Odiava o fato de passar o “Dia dos Namorados” sozinho. Não o incomodaria se não tivesse namorada… mas tinha. Estava irritado, cansado. Resolveu beber. Resolveu mandar uma mensagem para ela e ver se era só ele nesse infortúnio. Afinal de contas, dá um alívio quando não se sofre sozinho, né? E, as vezes, até pior, sofre-se menos quando tem alguém numa situação pior… Para sua alegria a resposta foi o riso dela e aquele jeito irônico de encarar a situação.
– Estou aqui de pijama, vendo filme. Que tal? Ótima noite de “Dia dos Namorados”, não?
– Quer juntar-se a mim e beber sangria enquanto falamos mal de quem está sendo brega e feliz hoje?
– Essa proposta é tentadora! Posso ir vestida de derrota, com moletom por cima do pijama?
– Pode, respondeu rindo.
Ela ficou preocupada que a namorada dele não fosse gostar mas, estava tão sedenta por melhorar a noite fatídica com humor e álcool que resolveu deixar ele cuidar disso. Até porquê, sabia que nem ela nem ele tinham intenção de fazer do programa algo romântico. E ele… ah! Ele estava irritado e cansado mesmo. Irritado com a distância, cansado da cobrança; ou vice-versa. E cansado de trabalhar demais e dormir de menos. Mandou às favas a possibilidade de confusão.
Promessa cumprida: em menos de meia hora ela estava lá de pijama, moletom por cima, sem maquiagem. Linda; iluminando a sala com o sorriso gigante. De repente beber era mesmo divertido. Depois de falarem mal dos casais felizes, falaram de livros, de viagens, de música. “Caetano Veloso é rei”, concordavam. “Vou te dar uma cópia do melhor álbum dele. Para mim não existe nada que me expresse melhor, que me entenda melhor” e, entregou-lhe uma cópia de “Transa”. Enquanto ouviam Caetano cantar, chorar, balbuciar… o telefone tocou. Os dois sabiam que era ela, a namorada dele. Só podia ser ela.
Enquanto ele ouvia, respondia, tentava se controlar e queria perder o controle, ela bebia. Deve ter virado umas três, quatro taças enquanto tentava ficar invisível. Quando ele afastou o telefone do rosto (sem despedida nem nada), os olhos gigantes parecendo a incredulidade encarnada, ela perguntou “E agora?”. Ele hesitou, pegou-a pela mão, arrastou-a para a cozinha. Pegou outra garrafa de vinho e perguntou como quem desafia “Eu estou realmente furioso; vou ser péssima companhia. Consegue ficar apesar disso e beber comigo?”. Ela sorriu com os olhos cheios de lágrimas, pegou uma faca e começou a cortar mais frutas, respondeu com a doce ironia “é o mínimo que eu posso fazer. Eu acabei há pouco com a sangria…”.
Beberam a noite toda ao som de Caetano. Ao meio dia ele acordou: o sol entrava pela janela e parecia que queimava-lhe as pálpebras. O corpo todo doía – tinha dormido sentado no sofá. Sobre o seu colo repousava a cabeça, os cabelos, a boca do sorriso favorito… Ela acordou ao sentir o olhar dele sobre ela. “Ainda bem que eu vim de pijama, né?”, sussurrou. Passaram o dia juntos sob a coberta decidindo que treze seria seu número da sorte e que precisariam de outro álbum para marcar aquele data. Passaram o dia compartilhando o que tinham em comum e o que adoravam um no outro: sorrisos, carinhos e palavras. Passaram o dia aproveitando o que era simples para eles e, tentando esquecer tudo que era complicado e estava para chegar.
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Foto: http://cartasaalice.tumblr.com/post/52087308047/self-promos
Não me aguentei. Achei que não ia escrever nada sobre o “dia dos namorados” mas, né? I’m part – not to say founder – of the “Hopeless Romantic Team”. Então… voilà: história com direito a final feliz (dentro do possível).
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